A aceleração dos pagamentos digitais cresceu exponencialmente desde o período pré-pandemia, o que marca uma mudança significativa no fluxo financeiro. Transações eletrônicas substituíram o dinheiro em espécie, e aumentaram a velocidade e dinamismo das operações. O surgimento do Pix foi um marco nesse processo, impulsionando a digitalização e transformação financeira.
Contudo, a pandemia atuou como um catalisador, adiantando essa transição. Essa mudança trouxe vantagens, como rapidez, mas também desafios, especialmente com o uso do crédito no PIX, exigindo maior educação financeira. A democratização dos serviços financeiros e o aumento da concorrência também impulsionaram os pagamentos digitais.
A gestão financeira empresarial foi impactada positivamente, mas demanda ferramentas digitais eficazes para acompanhar essa evolução constante. A perspectiva é de um crescimento contínuo, à medida que novos métodos de pagamento, como as carteiras digitais, ganham espaço. No entanto, é essencial superar desafios de infraestrutura para garantir a inclusão digital e a segurança dos usuários, promovendo a confiança necessária para uma adoção ainda mais ampla dos pagamentos digitais.
Segundo o relatório 2023 World Payments Report, publicado pelo Instituto de Pesquisa Capgemini, os volumes de transações não monetárias atingiriam 1,3 trilhão até 2023 em todo o mundo. Até 2027, a expectativa é que esse crescimento seja de 15% ao ano e acelere para 2,3 bilhões de transações. O estudo mostra ainda que, até 2027, os novos métodos de pagamentos (instantâneos, dinheiro eletrônico, carteiras digitais, conta a conta – A2A e pagamentos por QR code) representarão aproximadamente 30% do volume total, com os pagamentos tradicionais sem dinheiro (cheques, débitos diretos, cartões e transferências de crédito) em queda de cerca de 70% do volume total de transações não monetárias. Essa transformação financeira teve o Pix e a Pandemia como fatores que a impulsionaram.
Pandemia e Pix como protagonistas da transformação financeira
Se comparado o período pré-pandemia com o atual, é possível notar um crescimento de 200% nesse volume de transações, conforme explica Daniela Dutra, líder de Soluções para Bancos na Capgemini Brasil. Ela pontua que, antes, muitas das transações eram feitas com dinheiro de papel, mas passaram a acontecer de forma digital. Com isso, o dinheiro passou a circular de forma mais rápida, e não dorme mais.
“Isso traz dinamismo aos negócios, velocidade para tomar decisões e saber se vai precisar de dinheiro, até mesmo em caso de pessoa física. Ele é muito mais rápido, e as pessoas conseguem pagar com dinheiro digital em uma velocidade muito maior do que acontecia. Isso representa uma mudança no cash flow, para as empresas e para as pessoas físicas. O dinheiro passa de mão em mão mais rapidamente e faz com que, cada vez mais, tenhamos que ter informações para tomar decisão e saber a melhor hora de emprestar, de investir, ou pagar os fornecedores”, comenta a executiva.
O crescimento acelerado já era previsto, mas a criação do Pix contribuiu diretamente para que os números acelerassem e chegassem aos patamares atuais. O volume de transações saltou de 548 milhões em 2017, para 1,1 bilhão em 2022. Para 2024, estima-se que alcance 1,5 bilhão.
“O Pix é uma invenção, um acontecimento, orquestrado pelo Banco Central que, com certeza, viabilizou essa transformação independentemente da pandemia. O crescimento aconteceria, porque o dinheiro digital abre mais as portas, tornando possível transacionar em um ambiente e-commerce. Com esse o tipo de comércio via internet as transações crescem, mas a pandemia acelerou, acredito, de cinco a 10 anos essa história, porque fez com que as pessoas tivessem que comprar mais remotamente do que antes”, explica a líder de Soluções para Bancos na Capgemini Brasil.
O estudo ainda mostra que, em 2022, 64 esquemas de pagamentos em tempo real (RTP) globalmente impulsionaram o crescimento dos pagamentos A2A. Os pagamentos A2A representaram US$ 525 bilhões em valor global de transações de comércio eletrônico e devem crescer em 13% CAGR até 2026. Além disso, o tamanho do mercado de carteiras digitais deve crescer em 14,6% CAGR durante 2022-26. Usuários de carteiras digitais devem ultrapassar 5,2 bilhões globalmente em 2026.
O relatório aponta ainda que mais de 60% da população mundial usará carteiras digitais em 2026. As compras com cartão sem contato em todo o mundo aumentarão 23% ano e atingirão um total de mais de US$ 522 bilhões até 2026. O crescimento ainda teve dois fatores que contribuíram para que ele tivesse um ritmo mais acelerado. Segundo aponta Daniela Dutra, um deles foi a democratização dos serviços financeiros.
“As pessoas têm mais acesso a contas em banco que são menos complexos para conseguir ter uma conta aprovada, como bancos de nicho, que são especializados em temas específicos. Isso é muito por conta do regulador, que baixou as barreiras para que outros concorrentes entraram. O segundo fator é o aumento da concorrência. Temos outros players, em outros formatos de prestação de serviço, sem agência, no modelo mais remoto. Isso com certeza também fez parte dessa do aumento das transações digitais”, frisa a executiva.
Tesoureiros corporativos insatisfeitos com os atuais serviços de gestão de caixa
O estudo indica que a maioria dos responsáveis financeiros corporativos percebe um aumento na procura por serviços de gestão de numerário (CMS) devido à globalização do comércio e às contínuas perturbações na cadeia de abastecimento. Um terço atribui essa necessidade ao surgimento de riscos evolutivos, como geopolítica e cibersegurança, enquanto quase 30% relacionam essa demanda crescente a um aumento da inflação, o que exige uma gestão de caixa mais precisa.
Apesar de as empresas multinacionais possuírem em média mais de 27 relações bancárias para suprir as necessidades de tesouraria, as ofertas atuais de CMS não as satisfazem completamente. Mais de 70% dos líderes empresariais enfrentam desafios como negligência em disputas, avaliação deficiente de risco de crédito e problemas com processamento de pagamentos atrasados ou duplicados. Entretanto, a solução parece evidente, já que cerca de dois terços (63%) dos líderes de pagamentos identificam as antigas barreiras de infraestrutura como o maior obstáculo para oferecer serviços eficientes de gestão de numerário.
“O modelo atual de lidar com serviços de gestão de caixa precisa de uma revisão. Os executivos corporativos estão sentindo a pressão das crescentes ineficiências em longos ciclos de conversão de caixa. O que fica claro em nosso relatório é que uma base digital robusta é o caminho a seguir para otimizar a cadeia de valor. Ao simplificar a complexidade inerente dos seus modelos operacionais e de TI, os bancos e as empresas de pagamento podem aumentar a produtividade e o desempenho para gerir as necessidades de tesouraria dos clientes”, disse Jeroen Hölscher, chefe global de Serviços de Pagamentos da Capgemini.
Os clientes corporativos estão exigindo dos bancos uma experiência de pagamento semelhante à do varejo
Novas abordagens nos pagamentos e grandes iniciativas da indústria estão impulsionando o avanço dos pagamentos digitais entre empresas. As expectativas dos clientes empresariais estão se transformando, com 63% exigindo dos bancos uma experiência de pagamento equiparável à do varejo até 2023.
Apesar do setor de pagamentos estar liderando a digitalização, enfrenta desafios de conformidade com regulamentações locais, regionais e globais (como ISO20022 e SWIFT), o que limita os investimentos em inovação. Executivos de pagamentos apontam que quase 80% das receitas dos métodos tradicionais estão sob pressão, pressionando os provedores de serviços a reequilibrar o foco entre pagamentos varejistas e empresariais. Mais da metade dos executivos de pagamentos acredita que os pagamentos comerciais têm maior potencial de lucro do que os varejistas.
Dentro das empresas, as facilidades dos pagamentos digitais têm efeito na gestão financeira. Isso acontece porque, no período da pandemia, muitos avanços foram feitos no âmbito da pessoa física, para que ela comprasse através de Pix, com o cartão do próprio varejista, no próprio site, e até os aplicativos dos bancos. Já as novas instituições bancárias ficaram mais fáceis, mais atraentes e mais conectadas. Isso, visto no panorama de pessoa física.
“Pelas nossas pesquisas, notamos que a indústria financeira dos bancos investiu muito, porque era o momento. Agora, partimos para outros ciclos de digitalização, que são das empresas, porque a velocidade das coisas aumentou tanto que as companhias precisam gerenciar a entrada e saída de dinheiro de diversos meios de pagamento. Porém, vira algo burocrático se não tiver ferramentas que digitalizem, que automatizam e que conversem com esse fluxo de caixa. O dinheiro não dorme mais”, finaliza Dutra.
Fonte: Consumidor Moderno